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Maurício Baptista de Oliveira ao fundo. |
Apostando no potencial do Tupi e da cidade de Juiz de Fora, é que
o empresário e presidente da SEG – Serviços Especiais de Guarda, Maurício
Baptista de Oliveira decide concorrer à presidência do clube em 1983, com o
intuito de dar continuidade ao trabalho exercido de maneira honrosa pelos
homens que ficaram na história da família carijó, como Walter Corrêa por
exemplo. Em janeiro de 1984, Maurício assume a presidência do Tupi Foot Ball
Club:
Foi o melhor momento, em 1982, 83. Porque
o Maurício tinha sido jogador do Tupi, e ele bem mais tarde, já bem sucedido
como empresário, ele tinha a SEG – Serviço Especial de Guarda, fui eu que
estimulei o Maurício, fui eu que fui um
dia fui na SEG e conversei com ele, e acabou que ele se entusiasmou, e ele
disse mas eu nem sou associado!? Mas eu disse que nós íamos dar um jeito.
Fizemos uma convocação ao Conselho Deliberativo e mudou-se o estatuto e que não
precisava ser um ano ou mais de associado para ser concorrer as eleições de
presidente do clube, precisava ter somente um mês. E ele ganhou com a maioria
dos votos. E ele foi um belíssimo presidente, mas foi uma pena que o Maurício
não continuou. [1]
Com o dinamismo e a percepção de um empresário experiente,
Maurício Baptista, que já tinha sido atleta do clube, queria agora como
presidente, fazer do Tupi um dos melhores e mais bem estruturados times não só
do Estado, mas do país. Com planos audaciosos e uma equipe de profissionais
competentes, o clube passou a ter uma ideologia diferenciada de tempos
passados. As obras realizadas na estrutura administrativa do clube são exemplos
dessa mudança de mentalidade.
Dentre as principais obras da gestão do Maurício Baptista, foi a total
revitalização do Estádio Salles Oliveira, construção do restaurante na sede
social, reconstrução do parque aquático, além de melhorias nos campos de
futebol da sede social, nas saunas, na quadra de vôlei, no campo de malha, na
raia de bocha e no salão de festas. Além das obras materiais, vale destacar a
infraestrutura montada para os atletas do clube, criando condições para que
estes pudessem ter melhores desempenhos nas competições.
Geraldo Magela Tavares, que foi o principal incentivador de
Maurício, além de ter sido o seu vice-presidente, destaca que o mais importante
na gestão Maurício Baptista foi o investimento no clube, valorizando seu
patrimônio e sua história, porém se aborrece pelo fato de algumas
administrações posteriores, além não terem dado continuidade ao trabalho, terem
prejudicado tudo de bom que havia sido feito, levando o clube a regredir:
O Maurício investiu no Tupi, ele investiu
no Tupi, ele investiu na sede social, investiu na construção, aumentou o
patrimônio, não só reformou o estádio, hoje ta valendo o quê, vai lá vê, teve
um presidente que teve aí que acabou vendendo tudo, a arquibancada e tudo mais,
destruiu tudo e acabou com tudo, e deixou o Tupi em uma situação de penúria, eu
não sei aonde vai parar. [2]
Os recursos para a manutenção das atividades no clube, eram
retirados dos aluguéis das vinte e uma lojas que pertenciam ao clube nas ruas
José Calil Ahouagi e Benjamim Constant, que possibilitavam uma considerável
renda, mais uma prova da mentalidade profissional instaurada no Tupi. Fernando
Luiz destaca os feitos do dirigente carijó:
[...] Seu Maurício, por exemplo, eu fui
diretor de futebol, gerente administrativo, nós investimos muito no futebol,
mas não deixamos a sede passar, porque se você for na sede social hoje você vai
ver três piscinas funcionando. Quando o Maurício assumiu, o Tupi só tinha uma
piscina, uma piscina olímpica, que tinha um trampolim, aí foi preciso jogar
tudo no chão, a máquina entrou, fez a reforma e hoje, o Tupi tem três piscinas
[...] [3]
Tática para a bola em
campo, tática administrativa. O Tupi parecia achar seu rumo. Com o acesso do
time profissional de futebol à primeira divisão, em 1983, tornou-se necessário
uma remodelação do Estádio Salles Oliveira, para que este se tornasse mais moderno
e mais confortável para seus torcedores. A primeira iniciativa foi solicitar,
junto à prefeitura municipal, a doação de parte da Rua Humberto de Campos para
a ampliação da capacidade do estádio. Em julho de 1984, a Câmara Municipal
aprova a doação e possibilita ao Tupi concretizar o projeto.
Pensou-se a princípio num projeto voltado para uma arquitetura
modernizada em concreto, porém as dificuldades financeiras impediram o
processo. Contudo, decidiu-se fazer algo mais simples, mas respeitando padrões
profissionais de qualidade. A partir daí, Maurício Baptista passou a buscar
recursos para a realização das obras.
Após cerca de quatro anos, o Tupi conseguiu que o Ministério da
Educação aprovasse o seu projeto e consegue uma verba de 130 milhões de
cruzados, em 1988. Para que estes recursos pudessem chegar ao clube, o Tupi
contou com a participação ativa da Liga de Futebol de Juiz de Fora, presidida
na época por Dirceu Buzinari, enviando ofício ao MEC. A remodelação do estádio
teve início em julho deste mesmo ano. Com o intuito de concluir o projeto, em
maio de 1989, Maurício Baptista doou de seus próprios recursos cinquenta mil
cruzados novos.
Depois da remodelação, o Estádio Salles de Oliveira ostentava
instalações modernas, oferecendo conforto aos torcedores e à imprensa,
melhorias na iluminação e um sistema de drenagem para o gramado. O Tupi, assim,
concretizava sua reestruturação.
Se fora de campo o clube se tornava cada vez mais forte, dentro de
campo não era diferente. A partir de 1984 com uma reorganização do departamento
de futebol, esforços financeiros pessoais do então presidente para contratação
de jogadores de bom nível e uma comissão técnica qualificada, fez com que o
Tupi conquistasse grandes resultados. Dentre os principais, os títulos de
campeão mineiro do interior nos anos 1985 e 1987, quando travou batalhas épicas
diante os times da capital, principalmente o Cruzeiro e o Atlético.
Nesta época, o Tupi enfrentava o Cruzeiro em pleno Mineirão, num
histórico confronto válido pelo quadrangular final do Campeonato Mineiro de
1987 e uma vitória levava o Galo à decisão do estadual daquele ano, entretanto
“fatores externos” fizeram com que o Tupi não chegasse ao seu objetivo, que era
o título, como rememora Paulo César Magela:
Vivi um momento histórico que eu acho, que
acabou virando um quadro de pesadelo, porque nós fomos garfados, nós que eu
digo o Tupi. Não me lembro se foi em 86 ou 87, mas o Tupi chegou para disputar
o quadrangular do Campeonato Mineiro, na época da administração do Maurício
Baptista de Oliveira, e o Tupi foi enfrentar o Cruzeiro no Mineirão, e se ele
passasse ele disputaria o título contra o vencedor de Atlético e América, que
acabou sendo o Atlético. O Tupi jogou maravilhosamente bem, tinha um time que
não se intimidava com o Cruzeiro, e mais ou menos aos 43 minutos do segundo
tempo, o Evaldo pega uma bola, vai para linha de fundo pelo lado esquerdo, ao
lado das cabines de rádio, quando ele ia entrar dentro da grande área os caras
fazem pênalti nele, o juiz simplesmente apontou pra marca, mas pra marca do
meio de campo, inverteu a marcação, boa parte da torcida que assistia ao jogo
era do Atlético Mineiro, por duas razões, uma porque era contra o Cruzeiro e
outra porque o Tupi também é preto e branco, então a torcida voou em cima do
cara, mas não adiantou e o Tupi foi eliminado com aquele 0 a 0, pois o empate
dava a classificação para o Cruzeiro. [4]
Através de uma atitude empreendedora do empresário Maurício
Baptista de Oliveira, o Tupi voltou aos tempos de glórias nos gramados de Minas
e do Brasil, nos anos de 1987 e 1988, o Tupi ganhou o direito de participar do
Campeonato Brasileiro pela primeira vez desde sua fundação, o que seria uma
constante nos anos seguintes, e o clube assumia de vez o caráter profissional.
Neste período foram criadas condições para que a equipe carijó desenvolvesse um
trabalho sério e de ótimo nível técnico. A presidência ainda doou um ônibus especial
para levar os times aos jogos e ainda construiu uma residência para os
jogadores de fora. Geraldo Magela Tavares lembra que:
Ele terminou a construção da sede, que foi
iniciada pelo Walter Correa de Souza, o Canário, construiu uma piscina, mais
uma piscina, eu era vice-presidente dele, o Maurício primou pela social do
clube, tinha o baile preto e branco, reuniões sociais extraordinárias,
aconteceu o retorno dos carnavais, os grandes bailes semanais, a reforma do
Estádio Salles Oliveira, e que depois teve um presidente que destruiu, vendeu
inclusive as arquibancadas e botou o dinheiro no bolso. [5]
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Forte time carijó de 1987 |
A escrita começou em 1984, com uma vitória de virada do Tupi sobre
o Atlético por 2 a
1 no Salles Oliveira, com dois gols do atacante Nequinha. O fato interessante foi
que um dos gols de Nequinha nesta partida foi considerado o “Gol do Fantástico”,
quadro do programa dominical noturno da Rede Globo de Televisão, que sempre
escolhia o gol mais bonito da rodada do final de semana. Nascia ali também,
através das mídias televisas uma visibilidade muito grande e a gestão da imagem
passava a ser mais uma obrigação dos clubes de futebol. Fernando Luiz recorda
de uma das grandes vitórias do Tupi sobre o Galo da capital em Juiz de Fora:
Teve um Tupi e Atlético aqui em Juiz de
Fora, no Campo do Sport Club Juiz de Fora, que na época o Seu Maurício estava
reformando o Salles Oliveira, e o Tarcísio Delgado estava construindo o Estádio
Municipal, e o Sport disputou o Campeonato Mineiro da Segunda Divisão aquele
ano, com a renda dos jogos do Tupi, das partidas que eram disputadas no campo
do Sport, o Tupi pagava aluguel pra jogar lá, e o Sport fez um belíssimo papel
na segunda divisão, e teve um jogo aqui Tupi e Atlético, o Atlético com um timaço,
João Leite, Luizinho, Éder, jogadores de alto nível, e o Tupi se fazia respeitar
perante os clubes da capital, é bom dizer isso, o Tupi mesmo nos momentos mais
difíceis sempre se fazia respeitado pelos dirigentes de Belo Horizonte, e o
Atlético era líder absoluto do Campeonato, o Tupi era o quinto colocado, e casa
cheia, o Procopão cheio, e o Sidney, o diabo loiro, fez um gol, matando a pau,
e o Tupi venceu aquele jogo por 1 a 0, e depois chegaria ao quadrangular final,
e fomos prejudicados pela arbitragem no Mineirão contra o Cruzeiro e perdemos a
chance de conquistar o título, e nós ficamos como o campeão do interior. [6]
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Diante dos fatos relatados, é inegável dizer que quando Maurício Baptista de Oliveira este no comando do Galo, o clube passou um dos seus melhores momentos, se não o melhor de todos os tempos. O jornalista Leopoldo Siqueira também aponta essa década como fundamental para o clube, e destaca que aquele investimento de Maurício foi feito pela paixão daquele homem pelo clube do coração, “a grande equipe nos anos 80 foi fruto do investimento de um milionário empresário apaixonado por futebol e pelo clube, que nunca se preocupou em se tornar empresa, que nunca conseguiu se desvencilhar de brigas internas, vaidades e políticas para prosseguir naquele rumo”. [7]
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Tupi em 1989, último ano de Maurício Baptista à frente do Galo |
Neste mesmo período, em outubro de 1988, na gestão do prefeito
Tarcísio Delgado, era inaugurado o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio,
um estádio de grande porte, com capacidade para 35.000 espectadores, com o
intuito de alavancar de vez o futebol da cidade e principalmente do Tupi, o seu
representante mais fiel. Na inauguração do Estádio, Tupi e Sport fizeram a
partida preliminar, ocorrendo vitória do Sport Club por 2 a 0, Ronaldo, jogador
do Sport, foi o autor do primeiro gol do Mário Helênio. No jogo principal, o
Flamengo enfrentou o Argentino Juniores, da Argentina, vencendo por 2 a 1.
Os anos 80 ficaram marcados na história como uma época vitoriosa
para o clube, quando o Tupi foi tratado com profissionalismo e dignidade, e os
resultados foram notórios dentro de campo. Entretanto, os anos 90
proporcionaria resultados nem tão estimulantes.