O Fantasma do Mineirão

O "Fantasma do Mineirão"
Terminava o ano de 1965, o Cruzeiro sagrava-se Campeão Mineiro e o Tupi amargava uma de suas piores campanhas no campeonato de Juiz de Fora. Em janeiro de 1966, o Tupi convidou o Cruzeiro para uma partida amistosa em Juiz de Fora. O Cruzeiro que contava com grandes jogadores na época como Tostão, Dirceu, Piazza, entre outros, foi surpreendido e acabou derrotado pela renovada equipe do Tupi por 3 a 2. O Galo atuou naquela partida com: Waldir (depois Hélio), Manoel, Murilo (depois Sabino), Dário e Walter; Mauro (depois Paulino), França (depois Jorge Guimarães), João Pires, Toledo, Vicente, Eurico (depois Joel), o técnico era Geraldo Magela Tavares. Já o Cruzeiro atuou com: Tonho, Pedro Paulo, Vavá, Dilsinho, Neco, Piazza (depois Zé Carlos), Dirceu Lopes (depois H. Chavez), Natal, Evaldo, Tostão, Hilton Oliveira (depois Dalmar).
Em seguida, a surpreendente derrota do Cruzeiro para aquele time do interior, estimulou o Atlético Mineiro a convidar o Tupi para um amistoso em Belo Horizonte, no Estádio do Mineirão. Mesmo com o apoio da grande torcida atleticana, o time dirigido por Paulo Amaral, caiu diante dos carijós de Juiz de Fora, por 2 a 1.
Com o objetivo de descontar as derrotas anteriores dos grandes da capital diante do Tupi, cabia ao América Mineiro tal feito, pois o Tupi vinha desmoralizando os times de Belo Horizonte. O América, dirigido por Yustrick, acabou, também, sendo sucumbido pelo Tupi dentro do Mineirão, novamente com o placar de 2 a 1.
Diante da desmoralização completa por parte dos times da capital, o América propôs ao Tupi um pentagonal, porém apenas quatro equipes disputaram o torneio, pelo fato do Palmeiras ter desistido de jogar. Novamente frente a frente com o Cruzeiro, agora dentro do Mineirão, o Tupi, mais uma vez, surpreenderia e venceria a equipe azul por 2 a 1. Aquele resultado acabou fazendo história para o Tupi, e a aquela equipe, depois de bater os três times da capital, Cruzeiro, Atlético e América dentro do Mineirão, num curto espaço de tempo, passava a ser conhecida como o “Fantasma do Mineirão”. Na seqüência do torneio o Tupi viria ainda a empatar com o Botafogo em 0 a 0, e perderia a decisão para o América Mineiro.

O ilustre  Geraldo Magela Tavares, em entrevista, recorda que a decisão do Campeonato Regional foi entre o Olympic e o Tupi, em 1965, e o Tupi ganhou de 3 a 2, em Barbacena, e de 4 a 0 em Juiz de Fora. Como gratificação aos jogadores, o presidente do Tupi trouxe o Cruzeiro de Belo Horizonte que tinha Raul, Pedro Paulo, Willian, Procópio, Neto, Dirceu, Tostão, Evaldo, Hildo Oliveira, Zé Carlos:

... era um timaço, e vieram a Juiz de Fora, talvez este seja o maior momento vivido por mim no Tupi. O Cruzeiro veio a Juiz de Fora e perdeu para o Tupi. Nós estávamos ganhando de 3 a 0 e o jogo acabou 3 a 2. O Atlético Mineiro convida o Tupi logo em seguida para ir a Belo Horizonte, ele que era o vingador e tava montando um grande time, e isso já era em 1966, o Atlético tava montando um grande time, já em janeiro de 66, para disputar o campeonato mineiro, o treinador era o Paulo Amaral, que tinha sido da Seleção Brasileira, e nós fomos lá, jogar contra o ”Galo Vingador”, E não vingou nada, nós ganhamos de 2 a 1. [1]


Geraldo Magela lembra ainda que o América também, pretendendo ser o vingador, convidou o Tupi para jogar. O Tupi venceu de 2 a 1. Em seguida, o América faz um torneio, comemorativo do seu aniversário: participaram Cruzeiro, América, Tupi, Botafogo:

...enfim aqueles clubes de Belo Horizonte, ganhamos outra vez do Cruzeiro. Então a imprensa de Belo Horizonte ficou assustada, que time é esse, isso é um fantasma, aí foi criado o “Fantasma do Mineirão”.  Esse foi o grande momento. [2]


 O sucesso do Tupi naquela época fez com que a equipe sofresse comentários de todo o Brasil, chegando a ser convidado pela Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo de 66 na Inglaterra, a participar de jogos treinos com a Seleção de Pelé em Caxambu, afim de se preparar para o Mundial. Esta equipe de tantas façanhas era formada por: Waldir, Manoel, Murilo, Dário, Ely Flores, França e Mauro, João Pires, Toledo, Vicente, Eurico (Amarildo), comandados por Geraldo Magela Tavares.


Geraldo Magela e Toledo, principais nomes do "Fantasma do Mineirão"


O segredo deste grande time foi o “amor à camisa” praticado pelos jogadores, pois quase todo o elenco era formado por “pratas da casa” do Tupi, atletas nascidos em Juiz de Fora e que tinham muito respeito pela cidade e pelo clube, esse fator refletiu em campo, e o Galo carijó pôde então conquistar resultados expressivos e ser definitivamente reconhecido no cenário nacional, como ressalta Magela:


Eurico e Toledo nos vestiários do Mineirão após vitória de 2 a 1 sobre o Atlético em 66


Eu assumi e adotei a prática de aproveitar a prata da casa, Waldir que era um dos goleiros, era de Juiz de Fora, Manoel, Murilo e Walter, de Juiz de Fora, Dario era de Pirapitinga, mas foi formado no juvenil do Tupi, França e Mauro de Juiz de Fora, João Pires, Toledo, Vicente e Eurico, enfim, dos 11, 9 eram de Juiz de Fora, então o que aconteceu foi um amor a cidade, amor ao clube, e o conjunto harmonioso que formou. Eles tinham um grande amor a camisa, um grande amor a cidade, e aquilo fez com que eles se transformassem, este foi o grande segredo, aproveitar praticamente a prata da casa, o que não se faz hoje. [3]

Pelé e Toledo durante amistoso da Seleção Brasileira contra o Tupi em 1966


O Tupi voltaria a disputar o Campeonato Mineiro em 1969, terminando na oitava posição. Esse grande momento do clube, infelizmente, durou por pouco tempo e os momentos difíceis seriam a tônica dos anos 70.



[1]  Geraldo Magela Tavares em entrevista ao idealizador do blog em setembro de 2007.
[2]  Idem.
[3]  Idem.