Ressurgimento das cinzas

Para Geraldo Magela Tavares, o Tupi sempre ressurge das cinzas, como aquela ave, a Fênix. De fato, o ano de 2001 começava para o Tupi com o sentimento de esperança e sonho, como todo início de semestre. A torcida do Tupi, que já vinha aflita há algum tempo pela dificuldade do retorno do clube à primeira divisão de Minas, esperava que a situação pudesse ter um final feliz. Segundo o jornalista Ailton Alves em A saga dos Carijós:

Os almanaques de futebol podem oferecer todos os frios dados: quantos jogos, quantas vitórias, empates, derrotas, gols marcados e sofridos. Mas somente nós, os torcedores, sabemos o quanto custou perseguir um sonho mínimo. As derrotas previsíveis de 1996, o zero a zero melancólico de 97, as chances perdidas em 98, a partida fantasma de 99, a nau dos insensatos de 2000, tudo isso ajudou a compor um mosaico de frustrações, tormentas e pesadelos, uma espécie de maldição que os fatos se encarregavam de transformar em verdade absoluta. [1]

A iniciativa do Tupi para 2001 foi a chamada política “pés no chão”, mesmo porque o clube passava por um péssimo momento financeiro, o que forçou o Galo a encarar aquela dura realidade de maneira natural, o que deixou os torcedores o tanto quanto desconfiados com o futuro do time. A idéia da diretoria era mesclar a “prata da casa”, como são chamados os atletas formados no clube, com alguns atletas vindos de fora, especialmente da região próxima a Juiz de Fora. Para o comando técnico da equipe fora escolhido Welington Fajardo, ex-goleiro do Cruzeiro.
O Campeonato Mineiro do módulo II daquele ano transcorreu tranqüilo. O Tupi fez uma campanha honrosa, e perdeu somente uma partida no torneio, para o Nacional de Uberaba e seguiu a passos largos para grande final.
A decisão do campeonato aconteceu no dia 31 de agosto de 2001, no Estádio Mário Helênio, quando o Tupi, para um público de aproximadamente 20 mil pessoas, conseguiu vencer o América de Alfenas por 3 a 1 com gols de André Luiz de cabeça, Alírio Júnior em uma bela cobrança de falta e o artilheiro Wesley de cabeça. O Tupi conquistava aquele que seria o mais importante título de sua história e retornava depois de seis anos para a primeira divisão do Campeonato Mineiro. De acordo com comentário de Ailton Alves:

O dia em que o Tupi foi campeão mineiro tinha que seguir um script, escrito por Mário Helênio. Ele me avisou, num sonho em preto e branco, na madrugada de quinta-feira, que o Galo venceria por 3 a 1. [2]

                                         
Tupi campeão mineiro do Módulo II em 2001

O retorno à primeira divisão no ano de 2002 não foi bem o que os torcedores carijós esperavam. Aqueles que aguardavam ansiosos os confrontos contra Cruzeiro e Atlético se decepcionaram. Naquela época tinham sido criados torneios regionais pelo país, como os torneios Rio-São Paulo e a Copa Sul-Minas, o que enfraqueceu os campeonatos estaduais.
No ano de 2002, os clubes Atlético Mineiro, Cruzeiro, América Mineiro e o Mamoré não disputaram o Campeonato Mineiro, em função da Copa Sul-Minas, desta forma, o campeonato estadual só contou com 8 equipes, Caldense, Ipatinga, Villa Nova, Tupi, Rio Branco, URT, Nacional de Uberaba e o Uberlândia. O Tupi naquele ano disputou quatorze partidas, tendo vencido cinco, empatando seis e perdendo três jogos. Com este desempenho irregular a equipe Carijó acabou ficando com o quarto lugar e a Caldense de Poços de Caldas se tornou a Campeã Mineira de 2002.
No ano de 2003, o Campeonato Mineiro retorna aos seus moldes tradicionais com a presença de todos os principais times da elite do Estado, enfim o torcedor do Tupi poderia reviver os velhos tempos, quando a equipe Carijó enfrentava os times da capital. Naquele ano, o Tupi fechava uma parceria com o Grupo de Supermercados Bretas, uma parceria promissora, a oportunidade que o Tupi há anos esperava para finalmente se tornar uma grande força no Estado.
O contrato assinado inicialmente previa uma parceria de cinco anos com investimentos no time profissional e nas categorias de base, além da construção de um centro de treinamento para o clube. O processo começou muito bem, o novo investidor montou uma boa equipe, que tinha no ex-jogador do São Paulo e da Seleção Brasileira Müller o grande destaque. Com um bom time e uma boa perspectiva no campeonato, o Tupi começou a construir bons resultados, a torcida comparecia em bom número ao estádio, o clube tinha uma das melhores médias de público no campeonato.


O craque Muller na apresentação pelo Tupi

Nem mesmo a contusão da estrela do time, Müller, logo na terceira partida da equipe no campeonato, contusão esta que tirou o jogador de quase todo o certame, desanimou o Galo que, no fim, alcançou o quarto lugar, ficando atrás somente do campeão Cruzeiro, que naquele ano ganhou tudo, inclusive o Campeonato Brasileiro, do Atlético e do América, sendo proclamado então o Campeão do Interior e assegurando vaga para a Série C do Brasileiro e para Copa do Brasil de 2004, lembrando que naquele ano de 2003, o Campeonato Mineiro foi disputado por pontos corridos. O Tupi em doze jogos, venceu cinco, empatou cinco e perdeu duas partidas, uma justamente para o Cruzeiro e a outra para o Ipatinga.
Ainda no ano de 2003, o Tupi disputaria a Série C do Campeonato Brasileiro, e faria um bom papel, chegando até as quartas-de-final do torneio, passando por times como o Americano de Campos, por exemplo, sendo eliminado pelo Bragantino, de Bragança Paulista.
Entretanto, o que seria somente o primeiro ano, dos cinco acordados, tornou-se o único, ou seja, a expectativa criada em torno do Grupo Bretas durou somente um ano, e o sonho do torcedor Carijó de tempos melhores se tornava pesadelo. Após o término do primeiro ano de contrato, o Grupo Bretas decidiu encerrar o acordo e abandonou o projeto Tupi, até hoje sem um esclarecimento público do motivo da desistência, entretanto a péssima gestão do clube e sua baixa credibilidade na época seja apontado por muitos pelo real motivo.
Tarcísio Delgado, prefeito de Juiz de Fora naquela época, foi enfático em dizer que os interesses do Grupo de Supermercados eram exclusivamente próprios, e não com o clube:

O que aconteceu foi o seguinte, eu conversei muito tempo com a direção nacional do Bretas, conversei com eles umas três ou quatro vezes, na verdade, a direção do Bretas, com uma gestão muito viva, quis pegar o Tupi, fazer um bom time, mas pensando em negócio, era revelar jogador, vender e ganhar dinheiro, na verdade veio com esta idéia. Eles chegaram, começaram a trabalhar, e quando foi mais no final do ano, eles vieram até a mim e disseram olha senhor prefeito, pra continuarmos a gente precisa de um centro de treinamento, com três campos de futebol, mais não sei o que, ou seja, eles exigiram que pra continuar,  que a prefeitura entregasse pra eles um centro de treinamento prontinho, com campos, vestiário e não sei mais o que, quer dizer a prefeitura não tinha condição nenhuma de fazer aquilo sozinha, e foram embora. Foram embora no momento que eu disse que não tinha condição nenhuma de fazer aquilo que eles queriam.[3] 
 
Apesar de inúmeras versões sobre este episódio, nenhuma foi propriamente comprovada, pois o próprio Grupo Bretas, na época, não se manifestou sobre o episódio. Tarcísio Delgado explicou ainda que:

[...] então eles vieram com um interesse definido, muito vivos, muito espertos, eles queriam entrar no ramo do futebol, mas com o  ramo empresarial, ao lado do Bretas, tinha uma diretoria especi-al só pra isso, na verdade eles queriam ganhar dinheiro em cima disso, vamos revelar jogador e vender por 2 milhões e ganhar dinheiro com isso. Mas para isso eles usavam das estruturas do clube. Ou seja, eles queriam chupar bala de graça, é o que eu também quero, eles vislumbraram essa possibilidade, de revelar jogador e ganhar dinheiro, sendo que nós que tínhamos que dar a estrutura pra eles, se ainda fosse revelar jogador pra o Tupi.[4]
 
Para outros, a saída do grupo gestor foi culpa exclusivamente do presidente do Tupi naquela época, José Mauller Júnior, que não tinha credibilidade suficiente para manter uma grande empresa no comando do futebol do clube. Para Geraldo Magela:

Este presidente fez com que o Bretas fosse embora, o Bretas foi embora porque não estava sendo repassado para ele os recursos que eram oriundos da prefeitura, através de Lei Municipal, no contrato que tinha o Bretas com o Tupi, estes recursos eram pra ser repassados para o Bretas, que ia bancar toda a estrutura do futebol, e eles não passaram este dinheiro e o Bretas foi embora. Foi uma perda lamentável para o Tupi. O principal motivo foi o não repasse dos recursos ao Bretas., o Bretas tinha o compromisso de construir o centro de treina-mento, eles queriam que a Prefeitura arranjasse o terreno, e a prefeitura não conseguiu, estes foi um dos motivos também, mas o principal não foi não.[5] 

 Após a repentina saída do Grupo Bretas, o Tupi Foot Ball Club amargou o que tem sido sua sina ao longo dos anos: ter que começar novamente do zero. Essa falta de continuidade de trabalho e uma visão não muito profissional dos dirigentes fez com que o Tupi tivesse que passar por uma reestruturação no seu departamento de futebol, porém os resultados não seriam os mais satisfatórios, exatamente no ano que o clube disputaria pela primeira vez na sua história a Copa do Brasil.
Com um elenco renovado, porém enfraquecido, o Tupi até começpu bem o campeonato vencendo as três primeiras partidas, porém, a “saga carijó” parou por aí, e os momentos subseqüentes seriam aterrorizantes. Nos oito jogos seguintes a equipe não venceu nenhuma partida o que culminou no rebaixamento do Tupi para segunda divisão de Minas, este seria mais um capítulo triste da história do glorioso Galo.
Naquele mesmo ano de 2004, o Tupi pela primeira vez na sua longínqua história disputaria a Copa do Brasil, que teve a sua primeira edição em 1989 e que é disputada no sistema de “mata-mata”, quer dizer, os times são divididos em chaves e se confrontam em duas partidas, cada jogo um clube como o mandante, o que conseguir o maior número de pontos passa para a fase seguinte.
O Tupi estreou eliminando o Bangu o que credenciou o clube a se classificar para segunda fase, quando enfrentaria nada mais, nada menos, que o Clube de Regatas Flamengo do Rio de Janeiro.
Contra o Flamengo, o Tupi teve o seu melhor momento de divulgação, em nível nacional, desde 1997 quando o clube chegou às finais do Campeonato Brasileiro da série C. O primeiro jogo deste histórico confronto, para os juizforanos principalmente, foi disputado em Juiz de Fora, no estádio Mário Helênio. Aquela partida foi transmitida ao vivo pela TV Globo para todo o país, e o Tupi pôde se apresentar, e bem, para o público nacional, pois apesar da derrota por 3 a 2, a equipe jogou bem e “deu trabalho” ao Flamengo, time que viria a ser o Campeão Carioca naquele ano e vice da Copa do Brasil. Um dos jogadores do Galo na época que mais lucraram com aquela partida, foi o atacante Denílson, autor dos dois gols do Tupi, já que ele acertaria um contrato para jogar no Vasco da Gama meses depois.

Tupi e Flamengo pela Copa do Brasil de 2004


No jogo de volta, disputado no estádio Giulite Coutinho, em Mesquita, o Flamengo goleou o Tupi por 4 a 0 e seguiu adiante no torneio, enquanto o Tupi se despedia melancolicamente. O Clube ainda disputaria no segundo semestre a Taça Minas e o Campeonato Brasileiro da série C, mas sem nenhum êxito.
O ano de 2004 se resumiria a estas frustrações, especialmente ao rebaixamento para o Módulo II do Campeonato Mineiro. Não era novidade: o Tupi vivia momentos críticos e o futuro parecia incerto.
De volta ao módulo II de Minas, desestruturado, sem patrocinador e sem motivação, todos os pesadelos, os sofrimentos e a desconfiança de tempos passados também estavam de volta ao clube, e o ano de 2005 acabou sendo um dos piores anos da história recente do clube.
O Tupi naquele ano não conseguiu sequer se classificar para a segunda fase do Campeonato Mineiro, sendo eliminado precocemente do torneio, ficando em quarto lugar num grupo que tinha além do Tupi, o Social, o Democrata de Governador Valadares, o Rio Branco, o Atlético de Três Corações e o Olympic de Barbacena, onde se classificavam três times para próxima fase. O ano de 2005 deveria ser apagado da história do Galo diante de tanta incapacidade por parte dos dirigentes do clube, além da falta de apoio, que sempre foi um dos motivos determinantes de diversos insucessos do clube ao longo do tempo.
Muito desse péssimo momento vivido pelo Clube, deve-se à polêmica e tanto quanto criticada administração de José Mauller Júnior, o Juninho, que fora acusado até de vender as arquibancadas do estádio Salles Oliveira e ser um dos principais responsáveis pela desestruturação do Tupi, inclusive em termos sociais, com a deterioração da parte social do clube, com a conseqüente queda no número de sócios. Em seguida assumiria Luiz Carlos de Paiva Monteiro, e o prognóstico do clube não se alterou, chegando perto de fechar as portas do departamento de futebol, já no ano de 2006.
Em matéria publicada no site acessa.com[6], é relatado que o ano começou com o projeto “100% Tupi Juiz de Fora”, a primeira tentativa de se terceirizar o futebol do clube, que já era um acordo firmado no final de 2005, com o intuito de manter as esperanças para o próximo ano. O idealizador do projeto foi o fisioterapeuta Marco Aurélio Saggioro Del Papa, mais conhecido como “18”. Ele, que era um empresário muito ligado ao clube, idealizou este projeto e o coordenou para ser gerido pela Associação Desportiva de Juiz de Fora (ADJF), através de um contrato de dois anos.
A partir desse momento, o projeto passou a ganhar novos aliados, do poder público até a iniciativa privada. O primeiro passo foi conseguir uma granja na entrada do bairro Grama, lugar que seria preparado para a equipe treinar e concentrar. A idéia do projeto, que teve inicialmente apoio do prefeito Alberto Bejani, era de conseguir apoio e gerar riquezas dentro da cidade de Juiz de Fora. A idéia também era cumprir um papel social dentro da comunidade juizforana, procurando estruturar escolinhas já existentes nos bairros da cidade, formando núcleos do clube. O projeto nomeou o lendário Geraldo Magela Tavares como coordenador geral.
Ainda de acordo com a matéria do site, os recursos esperados inicialmente como meta eram em torno de oitenta mil reais mensais, sendo que a prefeitura disponibilizava, na época, em torno de onze mil reais. O restante do valor seria obtido através de patrocinadores. O prefeito Alberto Bejani tentou na época, junto à Câmara, um aumento da verba de onze para vinte mil mensais, porém a Câmara não aprovou o projeto. A idéia de gerenciar o Tupi como uma empresa estava no papel e os objetivos eram grandiosos, inclusive um deles de levar o Tupi à Série B do Campeonato Brasileiro, mas ainda faltava se tornar realidade perante aos olhos do torcedor.
Inscrito para participar do Campeonato Mineiro do Módulo II, o clube corria contra o tempo para montar um time. Foram feitas até peneiras para seleção de jogadores. Porém bastou somente um mês para o sonho se tornar pesadelo. Ainda no mês de fevereiro de 2006 a crise se estendeu, o projeto não obteve o êxito esperado, e o clube, que estava às vésperas do início da competição, não contava com apoio, nem dinheiro e mal tinha um elenco formado. O Tupi estava próximo de fechar as portas do departamento de futebol depois de muito tempo, Geraldo Magela Tavares chegou até a dizer na época que “seria mais fácil fundar um clube do zero do que recuperar o Tupi”.
Com o iminente fim do futebol do clube naquele ano, uma empresa do Setor de Comunicação da cidade, a OP.Com, Organização Panorama de Comunicação, representada pelo empresário Omar Resende Peres, decidiu assumir a administração do futebol do Clube e deu um novo ânimo ao Galo naquele momento. A primeira iniciativa foi inscrever os jogadores na Federação a tempo do time poder estrear, estréia que estava marcada para o dia 8 de fevereiro, contra o Juventus de Minas Novas, na casa do adversário.
Após alguns anos de amadorismo, o clube nas mãos do empresário Omar Peres volta a ter uma gestão mais profissional. Através dessa estrutura gerencial mais profissional, o time se reestruturou, dentro e fora de campo. A nova direção providenciou a escolha de um Centro de Treinamento, onde a equipe pudesse treinar, se concentrar, ou seja, se preparar de maneira adequada para a disputa do torneio, esse Centro de Treinamento foi chamado de “Ninho do carijó”.


O empresário Omar Peres deu nova vida ao Tupi


Com uma boa base montada fora de campo, agora era preciso tornar forte a equipe dentro de campo, para isso, junto da equipe de administradores, formados por Antônio Braga e Marcelo Peres, juntou-se ao projeto o ex-jogador do São Paulo, do Napoli e da Seleção Brasileira, Alemão, que, com a sua experiência como empresário de futebol, pôde ajudar de maneira significativa na formação do elenco Carijó, indicando vários jogadores.
Assim, o grupo do Tupi foi se estruturando, e para o comando técnico desta equipe foi contratado José Luiz Peixoto, mais conhecido como Zé Luiz, ex-goleiro do Tupi e de diversas outras equipes do país e um homem muito identificado com as cores do Galo. Mesmo Zé Luiz sendo inexperiente como treinador, a confiança em seu trabalho era grande e também nos jogadores, sendo que alguns deles eram formados no próprio clube.
Em entrevista a uma revista feita em homenagem ao acesso do clube à primeira divisão em 2006[7], Antônio Braga explica que o Tupi passou a se organizar como se fosse uma empresa, definindo cada área de atuação e estabelecendo responsáveis, além de um levantamento das necessidades de cada área e definindo o orçamento. Com o apoio de uma empresa de Comunicação, é evidente que o marketing expositivo do Clube aumentaria naturalmente e, certamente, traria benefícios; e foi assim que aconteceu, a marca Tupi passou a ser divulgada com maior freqüência na televisão, rádio e no jornal impresso.
Com isso, o clube pôde atrair um maior número de patrocinadores, entre eles a MRS Logística, Bahamas, Pangea, Guaraná Americana, Leite Benfica, Unimed e a Prefeitura de Juiz de Fora. Outro benefício desta exposição do clube na mídia, foi o aumento da média de público no estádio, levando o Tupi a ter a melhor média do campeonato, outro fator foram as constantes campanhas promocionais feitas pelo grupo gestor.
Com o departamento de futebol organizado, inclusive com a aquisição de vários equipamentos modernos de fisioterapia e ginástica para uma melhor preparação física, que ficou a cargo de quatro professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, Marcelo de Oliveira Matta, Flávio Lúcio Lamas, Maurício Gattas Bara Filho e Paulo Henrique Rodrigues de Andrade, ainda segundo Antônio Braga, fora feito um investimento de R$15 mil reais em novos equipamentos para o departamento médico. Com um bom grupo de atletas e uma boa comissão técnica, além do apoio do torcedor, o Tupi conquistou dentro de campo importantes vitórias que o levaram a brigar pelo título do Módulo II de 2006.
O Tupi seguia bem no campeonato, para um time que teve um início coberto de dúvidas e incertezas, os resultados até que vinham sendo satisfatórios e o clube então chegava no hexagonal final, que obtinha os três melhores classificados de cada uma das duas chaves. Tupi, Juventus, Valério, Mamoré, Rio Branco e Uberaba.
Muitas pessoas não acreditam em milagres, ainda mais quando se tratam dos torcedores do Tupi, não muito acostumados a verem o Galo juizforano atingindo um; muito pelo contrário, o Tupi se acostumou sempre nos momentos decisivos ser sucumbido, muitas vezes pelo próprio destino.
Entretanto, o dia 28 de maio de 2006 entrou para a história, pois foi o dia em que um milagre aconteceu a favor do Tupi, e enfim o seu destino teria um final feliz. O Tupi enfrentaria naquele dia o Juventus de Minas Novas, no Estádio Mário Helênio, pela última rodada do Campeonato Mineiro do Múdulo II daquele ano. O Galo para se classificar, precisaria vencer o seu jogo por dois gols de diferença e ainda torcer para que o Uberaba ao menos empatasse, jogando em casa diante do já eliminado Valério, e uma vitória do já classificado Rio Branco diante do Mamoré em Patos de Minas. A torcida carijó estava desconfiada e com poucas esperanças, pois seria muito difícil que os três resultados pretendidos pelo Tupi dessem certo, tanto que apenas 1.557 pagantes foram ao Mário Helênio naquela tarde de domingo.
O Tupi fazia a sua parte em campo, jogando um bom futebol; a equipe venceu o Juventus por 3 a 1, com gols de Felipe Suriani, Leandro Guerreiro e do atacante Allan, com isso a equipe faria os dois gols de vantagem que seriam importantes para a luta pela vaga.  As coisas começaram a melhorar, quando o Rio Branco batia o Mamoré por 2 a 0 em Patos de Minas, selando a sua classificação e levando o título do Módulo II. Restava a partida entre Uberaba e Valério, que seguia 0 a 0 no Estádio do Uberabão, com um público de quase 20 mil pessoas apoiando o Uberaba, que precisava de uma vitória simples para conseguir o acesso, enquanto o Tupi “rezava”, literalmente, para que aquele empate permanecesse.
Ao término do jogo do Tupi em Juiz de Fora, a partida entre Uberaba e Valério ainda estava acontecendo, com alguns minutos ainda para terminar, mais precisamente 11 minutos. O Valério, que já estava eliminado, segurava um empate heróico e sofria uma grande pressão, mas nada do gol do Uberaba sair. Em Juiz de Fora, ainda no gramado do Estádio Mário Helênio, jogadores, dirigentes e comissão técnica oravam no meio de campo, unidos, aguardando amargurados o fim da partida de Uberaba.
Nas arquibancadas, os torcedores incrédulos não arrastavam o pé, outros tantos acompanhavam pelo rádio aqueles agonizantes minutos finais do Uberabão, pois a Rádio Panorama que transmitia a partida, ao final do jogo do Tupi, entrou em cadeia com uma rádio de Uberaba, assim todos puderam acompanhar os momentos finais do jogo.
Quando o locutor da rádio de Uberaba anunciou o fim da partida, as lágrimas nos olhos dos carijós já não eram mais de angústia, mas sim de alegria pelo milagre da classificação. Os resultados que muitos achavam improváveis, aconteceram, e o Tupi, enfim, conseguiu retornar para a primeira divisão de Minas, o clube ficou empatado com o Uberaba em número de pontos, porém terminou com um gol de saldo a mais que o time do Triângulo Mineiro. Esse talvez tenha sido um dos momentos mais marcantes do Tupi, com muito sofrimento, sentimento esse que sempre marcou a história do Galo Carijó.


Grupo do Tupi em oração no meio do gramado à espera do término da partida em Uberaba

O clube então voltava à elite do futebol mineiro, e um dos grandes responsáveis por esse retorno foi o empresário Omar Peres, presidente da Organização Panorama de Comunicação, que decidiu administrar o futebol do clube no início do ano de 2006, e ele diz que decidiu contribuir com o Galo quando percebeu que o clube fecharia suas portas:

A rigor, foi um ato voluntarista. O Tupi ia definitivamente fechar o seu departamento de futebol profissional. Havia, naquele ano, caído para a segunda divisão do campeonato mineiro. Desacreditado, os amantes do esporte, não se mobilizaram para evitar o fim do futebol profissional da cidade, o que tiraria definitivamente o Tupi do cenário futebolístico do estado. Foi quando eu entrei e decidi pagar a inscrição do clube, evitando, portanto o fim do futebol profissional de Juiz de Fora.  A diretoria me pediu que ajudasse o clube. E continuei ajudando. Em seguida, chamei o Alemão, ex- jogador do Botafogo e da seleção para organizar a equipe. Deu certo e, voltamos a primeira divisão. Foi uma deliciosa experiência, mesmo que tenha me custado uma significativa soma de recursos pessoais, a fundo perdido e, portanto, sem retorno. Dei minha contribuição para o futebol profissional de Juiz de Fora, mesmo que não reconhecida pelo clube, muito menos pela cidade, sinto-me feliz pelo que fiz. [8]


Allan, um dos grandes destaques desse time nos braços do torcedor


No segundo semestre de 2006, o Tupi partia para a disputa da Taça Minas Gerais, que dava uma vaga ao campeão para a Copa do Brasil de 2007. Algumas mudanças no elenco foram inevitáveis e para o comando técnico foi contratado o experiente José Maria Pena. O regulamento previa que todos os times, entre eles Tupi, Villa Nova, Uberaba, Democrata de Sete Lagoas, Uberaba, Caldense, Uberlândia, América Mineiro e Unitri, se enfrentassem em turno e returno na primeira fase, e os quatro classificados passariam para semifinal e, posteriormente, para a decisão do torneio.
Depois de um início irregular, que culminou na demissão de José Maria Pena e na efetivação no comando técnico de Joel Martins, a equipe até se recuperou do início ruim, mas os resultados foram insuficientes para levar o Galo às semi-finais. O Villa Nova seria o campeão da Taça Minas aquele ano.
Entretanto, o que mais marcou o Tupi neste período, e acabou entrando para a história, foi a contratação feita pelo clube, através da empresa que administrava o time, do craque Romário. A contratação do jogador, que na época vinha de uma temporada nos Estados Unidos, foi bombástica, não só para Juiz de Fora, mas para todo o Brasil. A contratação do “Baixinho”  colocou o Tupi e a cidade de Juiz de Fora nos principais noticiários do país e até do mundo, em jornais principalmente da Espanha, onde Romário é muito respeitado. O Tupi neste período foi notícia nos principais veículos de comunicação do país, e ficou em evidência no período em que o jogador esteve na cidade, quem não conhecia o clube, a partir daí passou a conhecer. O responsável por essa contratação, o empresário Omar Peres, fala que tinha esperanças de ver o atleta em campo, mas somente o marketing feito em cima da vinda do Romário à Juiz de Fora rendeu vários benefícios:

Claro que tínhamos esperança de vê-lo jogar. No entanto, somente como estratégia de marketing, a sua contratação trouxe incomensuráveis benefícios para o clube e para o projeto do ‘Grande Tupi’. Fomos noticia no Jornal Nacional, Fantástico, etc. E, literalmente, em todos os jornais do mundo, levando o Tupi a ser respeitado como ‘clube grande’, mostrando nossos claros e definidos objetivos de sermos protagonistas e não coadjuvantes de campeonatos regionais. [9]

Romário chegou a se apresentar com a camisa do Tupi, veio a Juiz de Fora, treinou, se disponibilizou a jogar, mas fora impedido por problemas burocráticos que envolviam seu contrato, pois como ele já tinha assinado com duas equipes naquele ano, o Vasco e o Miami dos Estados Unidos, ele seria, conseqüentemente, impedido se assinar um terceiro contrato, o que acabou com as esperanças dos torcedores carijós de ver o Romário em campo com a camisa do Tupi. De qualquer forma, a sua contratação acabou sendo uma boa promoção para o clube, que ficou em evidência por um bom tempo na mídia nacional e internacional. Entretanto, a imagem do clube acabou também sendo um pouco arranhada, pelo fato de ter sido motivo de “chacota” por parte de alguns jornalistas, principalmente de Belo Horizonte, debochando do clube por não ter conseguido colocar o jogador em campo.


Romário vestiu a camisa do Tupi mas não jogou

Os frutos colhidos no ano de 2006 foram positivos, inegavelmente, principalmente em função do retorno do Clube à primeira divisão do futebol mineiro. Para o ano de 2007 foi mantida a empresa administradora do futebol do clube, a Organização Panorama de Comunicação, e a intenção, com o clube na primeira divisão, era de montar uma estrutura ainda melhor, para que o time pudesse conquistar resultados ainda mais evidentes, como estar entre os melhores times de Minas Gerais.
Para que o sucesso fosse alcançado, o primeiro passo foi renovar o contrato dos principais jogadores do time, além da contratação de mais atletas, que pudessem estar enriquecendo o elenco do Galo. Neste momento, o diretor técnico do clube, o ex-jogador Alemão, tinha grande autonomia na contratação dos jogadores, se valendo da sua experiência como empresário de futebol. Para o comando técnico foi contratado o ex-craque do Flamengo, Vasco e Seleção Brasileira, o Tita.
  Com uma estrutura já montada, desde o ano de 2006, o clube precisou apenas renovar o elenco e a comissão técnica, e o objetivo era colocar o Tupi nas semi-finais do campeonato daquele ano. O torneio era disputado por doze equipes, além do Tupi, disputariam Cruzeiro, Atlético Mineiro, Democrata de Governador Valadares, Villa Nova, Rio Branco, Ipatinga, Democrata de Sete Lagoas, Ituiutaba, Guarani de Divinópolis, Caldense e América Mineiro. O regulamento previa que todos os times se enfrentassem em turno único e os quatro melhores na fase de classificação passassem para as semi-finais, que seriam disputadas em dois jogos no sistema de mata-mata, e os dois melhores deste confronto fariam a grande final.
O Tupi aquele ano fez uma bela campanha e depois de vinte anos, disputaria uma semifinal de Campeonato Mineiro e o adversário seria o Cruzeiro, primeiro colocado na fase de colocação. O Tupi acabaria a primeira fase em quarto, porém empatados no número de pontos com Atlético e Democrata de Governador Valadares, mas perdendo no saldo de gols. Contudo, o objetivo tinha sido alcançado, nas semifinais o Tupi acabaria eliminado pelo Cruzeiro.
Apesar da bela campanha do clube no Campeonato Mineiro, alcançando o quarto lugar e uma das vagas para o Campeonato Brasileiro da Série C, alguns acontecimentos extracampo, como a retaliação de alguns jogadores contra a direção do clube, vésperas da segunda partida da semifinal contra o Cruzeiro, mancharam um pouco os feitos daquela equipe e o futuro do clube novamente tornou-se duvidoso, a partir do momento em que o empresário Omar Resende Peres divulgou publicamente, ao vivo, pela Rádio Panorama, logo após a derrota para o Cruzeiro, que não seguiria mais à frente do futebol do Tupi e que todos os jogadores que fizeram parte do elenco no Campeonato estadual estariam demitidos.
Mesmo com um desfecho inesperado, Omar Peres deixa o Tupi satisfeito com o trabalho desenvolvido, mostrando que os resultados em campo foram satisfatórios:

Busquei, pessoalmente, parceiros comprometidos com a cidade e que a tinham como principal o mercado. Mostrei que o retorno do investimento seria garantido, dado que atingiria diretamente o seu público, o seu cliente. Assim, a MRS, Bahamas e Unimed, dentre outras, entraram e contribuíram com o projeto que foi vencedor. Me parece que essas empresas ainda continuam apoiando o clube. Nada, literalmente, deu errado. Nos dois campeonatos que disputamos com meu apoio, fomos vitoriosos: segundo lugar na segunda divisão e terceiro na primeira. Nada mal em dois anos, para um clube que estava para fechar as portas. [10]

Após a turbulenta saída da OP.Com da administração do futebol do Galo, o Tupi Foot Ball Club, mais uma vez, voltava à “estaca zero”, o departamento de futebol voltava a ficar sem patrocínio e a parte social do clube cada vez menos estruturada. O Tupi voltava a repetir os erros do passado, quando quase nunca manteve uma continuidade de trabalho, este um dos fatores primordiais para a maioria dos insucessos do clube ao longo de sua história.
Semanas depois do anúncio oficial da saída da OP.Com do Tupi, o clube novamente tentava se reestruturar, visando o Campeonato Brasileiro da série C e a Taça Minas Gerais. A Prefeitura Municipal, gestão do prefeito Alberto Bejani, decidiu assumir a responsabilidade de “tocar” o futebol do Tupi. Algumas reuniões foram feitas neste período entre o prefeito, o presidente do clube e alguns dos patrocinadores que já vinham apoiando o Tupi. A OP.Com, através de seu presidente, Omar Peres, flertou com a possibilidade de apoiar novamente o clube, porém ficou de fora das reuniões subseqüentes e decidiu abandonar definitivamente a possibilidade de voltar ao Carijó
Diante de mais uma crise interna, o Tupi retomou um novo caminho, foi oficializada então a que seria a nova administradora do futebol do clube, uma empresa de marketing esportiva nomeada AGM, coordenada por Setembrino Ramalho. Os antigos patrocinadores, MRS Logística, Bahamas, permaneceram e a hora agora era de se montar um novo time. Para o cargo de diretor técnico foi convocado Adil Pimenta, um antigo atleta do clube e que teve passagens de sucessos em grandes clubes do país como Corinthians e Grêmio. Para o cargo de treinador foi mantido Zé Luiz, e o time foi sendo montado a partir daí. Alguns atletas que fizeram parte do elenco no primeiro semestre como o goleiro Marcelo Cruz, o meia Júnior Negão e o atacante Allan acertaram seu retorno e outros atletas foram contratados. O clube chegou a receber três atletas que vieram dos juniores do Flamengo, entretanto dois deles foram embora meses depois.
Paralelamente a todo esse processo de mudanças no futebol profissional, o time sub 20 do Tupi, carinhosamente chamado de “Galinho”, vinha fazendo uma bela campanha no Campeonato Mineiro da categoria, e chegando depois de 7 anos a fase final do torneio, quando ia decidir, através de um hexagonal, o título de Campeão Mineiro de juniores. Contudo, a força de vontade e a categoria do grupo não foram suficientes para bater os fortes Cruzeiro e Atlético, vice e campeão do torneio.
Enquanto isso, o time profissional estreava no Campeonato Brasileiro da série C, e num grupo ao lado do Guarani de Campinas, Jaguaré do Espírito Santo e o América do Rio de Janeiro, o Galo carijó frustraria seus torcedores com uma campanha discreta, com apenas duas vitórias em seis jogos, o Tupi então seria eliminado ainda na primeira fase do torneio, dando adeus ao sonho de chegar à série B do Campeonato Nacional.
Contudo, ainda restava um torneio para o Galo disputar em 2007: a Taça Minas Gerais, que daria ao campeão e ao vice, o direito de estar na Copa do Brasil ou no Campeonato Brasileiro da série C de 2008. O torneio seria disputado por somente seis equipes, além do Tupi, América Mineiro, Democrata de Sete Lagoas, Uberaba, Ituiutaba e Uberlândia. O regulamento previa que todos se enfrentariam em dois turnos e os quatro melhores classificados disputariam as semifinais, com jogos de ida e volta, e os dois melhores classificados fariam a grande final do torneio. O Tupi acabou chegando na decisão do torneio, mas foi derrotado pelo extinto Ituiutaba (hoje BOA Esporte) e terminou com o vice-campeonato.
Após um ano conturbado e de muitas emoções, o Tupi teria que se preparar para o próximo ano, agora, com uma nova diretoria e novas ambições. 




[1] ALVES, A. (2004), contracapa. (A Saga dos Carijós)
[2] ALVES, A. (2004), p. 70 Idem
[3] Tarcísio Delgado em entrevista ao idealizador do blog.
[4] Idem
[5] Geraldo Magela Tavares em entrevista ao idealizador do blog.
[6] http://www.acessa.com/cidade/arquivo/jfhoje/2005/12/21-tupi/
[7] Revista Panorama – Edição especial Tupi F. C., p. 12.
[8] Omar Peres em entrevista idealizador do blog.
[9] Idem
[10] Idem